Eu Não Sou Pilatus + Monumento Catástrofe
23 SET // 17h30 // Auditório da Fortaleza de Sagres
entrada livre, com reserva obrigatória para ccf@cineclubefaro.pt
Eu Não Sou Pilatus / I’m not Pilatus (2019) - Portugal, DOC, 11min
Realização, montagem e edição: Welket Bungué
Eu não sou Pilatus é um Manifesto artístico com licença poética por Welket Bungué. Este filme faz uma releitura sobre o caso de violência policial ocorrido no Bairro da Jamaica (Margem Sul, Lisboa) em Janeiro de 2019, e que chocou os portugueses e a diáspora africana. Mas que apesar de ter feito correr tinta nos media, as consequências dos atos de repúdio face à situação vivida, surtiram efeitos pouco evidentes tendo em conta a mobilização conseguida na marcha realizada na Av. da Liberdade (Lisboa) por iniciativa de jovens em protesto na época.
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Monumento Catástrofe (2022) - Portugal, DOC, 69min
Realização: Colectivo Left Hand Rotation
Monumento Catástrofe é um road movie em Portugal realizado pelo coletivo Left Hand Rotation, uma viagem pelos espaços da catástrofe, num movimento contra a dupla paralisia do desespero e da indiferença. Transitar entre as histórias contidas nos monumentos em memória das mortes coletivas expande o olhar sobre o acontecimento para além da sua capacidade disruptiva, revelando a catástrofe como a manifestação de um processo em curso, o Capitaloceno.
“Monumento Catástrofe” faz parte do projeto "A volta ao mundo em 80 catástrofes - Especial Portugal", uma ação/edição poética/política editada como guia turístico e que mapeia 80 monumentos (+24 em Portugal num capítulo especial) e memoriais que assinalam no espaço público os detonadores de catástrofes: o fenómeno natural, o capitaloceno, a necropolítica e o acidente. Um projeto do coletivo Left Hand Rotation com produção da Cósmica na sua versão editada em Portugal.
Muitas vezes visto como elemento ornamental, o monumento público à catástrofe está, no entanto, carregado de ideologia e valores funcionais, servindo mais para legitimação do poder estabelecido do que para a reparação das comunidades afetadas pelas catástrofes.Esta função é evidente não só no caráter seletivo da homenagem à memória, mas também na prática do esquecimento, que classifica a tragédia de acordo com a qualidade das vítimas ou evita deliberadamente a revisão histórica das atrocidades do Ocidente. Sintomática desta utilidade é a constante modificação simbólica de muitas destas esculturas, cujas alterações acompanham a evolução ideológica dos territórios em que foram erigidas.
Curadoria cinematográfica: Kitty Furtado
Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado) é crítica cultural empenhada na diluição de fronteiras entre academia e esfera pública. Tem curado mostras de cinema (pós)colonial e promovido a discussão pública em torno da Memória, do Racismo e das Reparações.
É doutora em Estudos Culturais, pela Universidade do Minho, com a tese: "Alteridade e identidade na ficção cinematográfica em Portugal e Moçambique" e investigadora do CECS (U. Minho), onde coordena a linha de investigação “Ativismos Migrantes” do projeto MigraMediaActs. É coautora da obra “Abrir os gomos do tempo: conversas sobre cinema em Moçambique” (2022).
Eu não sou Pilatus (2019) de Welket Bungué (Guiné-Bissau, 1988) é um manifesto artístico antirracista, feito através do diálogo entre dois vídeos de telemóvel, difundidos nas redes sociais, que testemunham dois olhares distintos e opostos sobre Portugal, a democracia e as suas instituições. Um destes vídeos expressa a total rejeição de uma manifestação por direitos civis na Avenida da Liberdade, em Lisboa. O outro é a denúncia da carga policial no Bairro da Jamaica, que deu origem à referida manifestação. A montagem reflexiva de Bungué chama-se Eu não sou Pilatus – Dizer eu não sou Pilatus é desde logo um posicionamento político. Eu não sou Pilatus quer dizer eu não lavo as minhas mãos como Pilatus; eu não me abstenho, eu não enfio a cabeça na areia, eu não olho para o lado, eu não ignoro o problema. Ao dizer eu não sou Pilatus, Welket Bungué deixa implícita uma pergunta: e vocês?
Monumento Catástrofe (2022) do coletivo Left Hand Rotation é um road-movie, em Portugal, que mapeia uma parte da construção do espaço público de forma crítica, partindo da ideia de Catástrofe, que está também relacionada com fatores locais e globais e relações de poder. O que é uma Catástrofe? Quem nomeia um dado acontecimento como Catástrofe?
Quem decide memorializar determinadas Catástrofes, como e para quê? Para quem?
Monumento Catástrofe forma um díptico com o livro A volta ao Mundo em 80 catástrofes – especial Portugal, que é editado como um guia turístico e revela o fenómeno natural, o capitaloceno, a necropolítica e o acidente enquanto produtores das catástrofes.
Os monumentos, incluindo memoriais, podem funcionar como ativadores da memória que desvelam discursos e atrocidades passadas. Como nos diz Patrícia Freire, da Cósmica – a produtora, narradora e chofer desta viagem - «Não esquecer é um ato de resistência e o monumento também cumpre essa função de “despertar as centelhas da esperança” ao contribuir para que os erros do passado não ressurjam».
A comunidade que se cria numa sala de cinema pela partilha de um filme pode virtualmente transformar o mundo. Assim, ainda que a história partilhada venha do passado o cinema projeta-se no futuro como o melhor companheiro para o presente.
Kitty Furtado sobre Libertar a Memória - Sessão 23 de Setembro
Aveiro, 2023