Manga d'Terra
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Categoria hospedeira: Programação
QUINTALÃO (TRASEIRAS DO MUSEU MUNICIPAL DE FARO) | 21H45
DIA 13 AGOSTO (3ªF)
SEJA COMO FOR
Catarina Romano, PT, 2020, 12’
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MANGA D'TERRA
Basil da Cunha, CH/PT, 2023, 96’, M/14
sinopses, fichas técnicas e trailer: aqui
críticas e imprensa
Manga d’Terra, terceira longa metragem do luso-suiço Basil da Cunha, explora um universo que tão bem conhece, o Bairro da Reboleira, na Amadora, às portas de Lisboa. A personagem Rosinha, interpretada pela cantora cabo-verdeana Eliana Rosa, é uma aspirante a cantora que se divide entre trabalhar num café/bar para enviar dinheiro para os filhos que ficaram em Cabo Verde e tenta de forma aspiracional encontrar uma carreira na música. Mas a sua verve intimida os homens e as mulheres do Bairro, que a vêem como uma estranha, um ovni ou uma ameaça. Nunca está nada bem, mas a câmara à mão de Basil da Cunha acompanha com uma humanidade calorosa, os momentos em que está bem, em que se diverte, e em que canta. A música que dá também o título ao filme, em que Eliana Rosa encontra a música Acácia Maior, é densa, triste e cheia de sodade da “terra longe”, “meu manga d’terra”, onde as mangas são saborosas, por oposição ao sabor da vida que se vive em Portugal. Filme sensorial e intuitivo, é das mais belas obras de Basil da Cunha porque entra-nos pelo coração adentro – “terra luz que me viu nascer”. Completamente rendido. – Miguel Valverde
Manga d’Terra: as mulheres do bairro
Este é um filme que flutua, como a câmara do realizador Basil da Cunha quando segue Eliana Rosa.
Manga d'Terra mantém e solidifica o princípio geral dos filmes de Basil da Cunha: filmar um espaço, aquele bairro da Reboleira que é o cenário de todos os seus filmes, um espaço acossado de várias formas. E agora, até pela iminência da demolição, a conferir-lhe uma dignidade que ultrapassa todas as medidas políticas ou sociológicas para se tornar uma questão de cinema e de olhar de cinema. O que Manga d'Terra traz de novo, ou que talvez não estivesse desta forma nos filmes anteriores, é uma abertura a um romantismo sonhador, capaz de planar, de se elevar, sobre a “realidade”. Um romantismo que é soprado pela importância que a música tem no filme, e muito especialmente as canções de Eliana Rosa, uma série de números musicais que são registados no momento, em som directo, sem artifícios de pós-produção.
[...]Mas também por isso este é um filme que flutua, como a câmara do realizador quando segue Eliana. Flutua entre tons: o humor das suas observações sobre a vida no bairro e o dramatismo das suas observações sobre as ameaças que pesam sobre o bairro (as internas, como a droga, e as externas, como o acossamento policial). A ligar uma coisa e outra, espécie de fil rouge que o filme nunca perde, a personagem de Eliana, Rosinha, e a sua melancolia nostálgica, ao mesmo tempo muito doce e muito ferida, e que também flutua entre a observação e a acção, entre a esperança e os golpes que a atingem. E vai tudo em crescendo: a sequência musical final, que está entre o “sonho” e uma espécie de flash-forward, é certamente a coisa mais bonita que Basil da Cunha já filmou. Luís Miguel Oliveira, Público ★★★
Aquilo que mostramos é outra forma de ser mulher, é outra força feminista que está presente e é importante. O cinema serve também para isso, para criar mitos e exemplos nos quais as pessoas se possam reconhecer e é importante dar voz às mulheres negras em Portugal e mostrar a forma, a resiliência que elas têm e a força. Basil da Cunha, em entrevista com @observador
Este pedaço de muitas Áfricas tem gente boa, gente em quem Basil sente uma necessidade de contar as suas histórias e de mostrar este mundo fechado à saída de Lisboa, a mesma Lisboa que a 15 minutos de comboio tem tuk-tuks e engarrafamentos de turistas. (…) Percebe-se o fascínio de Basil por estas personagens maiores do que a vida, maiores do que o cinema.Rui Pedro Tendinha, diariodenoticias.pt
Mas o que de esperançoso, mesmo que saídos seja a via, que MANGA D’TERRA colhe, é o facto de Basil da Cunha exercer o que havia cometido nas anteriores obras, propor uma escapatória à realidade das suas personagens, e neste caso usufruindo os efeitos clássicos associados ao género musical, no qual Rosa declara fascínio após presenciar na tela de um televisor (neste filme, por mais que uma vez, a televisão, como a janela do mundo para lá do bairro) a festividade cinematográfica desse universo. Hugo Gomes, Cinematograficamente Falando
Basil da Cunha leva-nos pelas ruas que conhece como ninguém. Apresenta-nos ao bairro, mostra-nos os cantos e becos que conhece já há 15 anos, sempre sem deixar para trás Eliana Rosa, a musa do filme, a musa da sua vida. Os dois caminham pelas estreitas do bairro e parecem heróis – todos os cumprimentam, todos os felicitam. É uma comunidade que está em pulgas para ver este musical sem filtros: toda a música foi filmada ao vivo, sem truques de estúdio. Rui Pedro Tendinha, diariodenoticias.pt
Era importante prestar homenagem a esta cultura, a estes novos artistas e à forma como vivem esta música, sentem esta música e a forma como misturam esta música com outros estilos. Depois, temos o texto crioulo da música. É poesia, não é fácil de traduzir nas legendas por ser tão bonito. Basil da Cunha, em entrevista com Variety
A protagonista, interpretada pela cantora Eliana Rosa, junta-se a um elenco liderado por mulheres que ancoram o filme, vivendo desde o humor e a esperança das suas vidas até à vulnerabilidade tenaz. (…) “Quando ela está a cantar, não sabemos se está a sonhar ou não. Mas sabemos que é a resposta a algo que o filme não consegue mostrar, algo que está dentro da alma desta personagem.” Holly Jones, Variety
Paixão de um filme por um bairro a desintegrar-se, a Reboleira, de um realizador por uma atriz com uma voz notável, a cabo-verdiana Eliana Rosa, MANGA D’TERRA, muito aplaudido em Locarno, é a melhor longa-metragem e a maior homenagem de Basil da Cunha ao espaço em que ele se integrou há 15 anos. E é um filme de música e de mulheres. Francisco Ferreira, Expresso
(…) de câmara na mão, nunca largando a sua protagonista,o cineasta entrega ao espectador um verdadeiro tratado sobre as heroínas anónimas do dia a dia, onde o quotidiano marcado pelas regras do patriarcado e capitalismo selvagem continua a ser dominante. Jorge Pereira Rosa, C7nema