Comemorações 68º Aniversário CCF
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Categoria hospedeira: Programação
68º ANIVERSÁRIO CCF - DIA 6 DE ABRIL
IPDJ - ENTRADA LIVRE
CINECLUBINHO | 10H30
O FARAÓ NEGRO, O SELVAGEM E A PRINCESA, Michel Ocelot, 2022, FR/BE, 83’, M/6
18H
AS ILHAS ENCANTADAS, Carlos Vilardebó, Portugal, 1965, 89’, M/12
Cópia digitalizada e restaurada pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema no âmbito do projecto FILMar, integrado no Mecanismo Europeu de Financiamento EEA Grants 2020-2024.
SOBRE O FILME
Este filme luminoso e onírico, estreou a 15 Março 1965, no Teatro Tivoli, e em Paris, no Cinema V.O., a 17 Junho 1966, e é a única longa-metragem de Carlos Villardebó, realizador luso-francês que em 1961 havia ganho a Palma de Ouro do Festival de Cannes com o filme LA PETITE CUILLÈRE.
Interpretado por Amália Rodrigues, num papel distinto do que lhe era reconhecido, e pelo ator francês Pierre Clémenti, então em início de percurso e mais tarde um símbolo da contracultura dos anos 60, o filme adapta AS ILHAS ENCANTADAS (1854, editado em 2000 em português pela Relógio d’Água), de Herman Melville. Na adaptação, colaboraram com o realizador o escritor José Cardoso Pires, a realizadora Jeanne Villardebó e o ensaísta Raymond Bellourd. Como curiosidade, num pequeno papel de um dos marinheiros, encontra-se Belarmino Fragoso, protagonista do filme homónimo de Fernando Lopes (1964).
Rodado no arquipélago da Madeira, e produzido por António da Cunha Telles, AS ILHAS ENCANTADAS é o relato, na terceira pessoa, de uma aventura marítima oitocentista, narrado pelo ator Pierre Vaneck que interpreta o papel de Manuel Abrantes, o imediato do navio explorador, o “Gazela”, nome dado ao navio Sagres, usado durante a rodagem. Durante a exploração de um arquipélago vulcânico pouco conhecido onde abundam tartarugas gigantes são descobertos dois náufragos: a jovem Hunila (Amália Rodrigues), e um marinheiro francês (Pierre Clémenti), cuja impossibilidade de comunicação, por falarem línguas distintas, sublinha a dimensão platónica desta relação. O seu salvamento significou, porém, a interrupção de uma história de amor improvável.
A fotografia do filme, assinada por Jean Rabier, acompanhado por Augusto Cabrita, na segunda equipa, sublinha a agressividade e solidão da ilha, em tudo contrastantes com a presença de Amália Rodrigues, que se afasta da sua persona pública e de cantora, para criar, quase sem palavras, uma personagem assente numa riqueza visual, gestual e física inéditas.
Foi essa nova Amália, surgida a partir das tensões a que o filme não escapou, que encontrou a objetiva de Augusto Cabrita, que acompanhou os bastidores da rodagem, revelando a excecionalidade deste filme. Em Julho 2023, o FILMar organizou uma exposição a partir das imagens de rodagem, assinadas por Augusto Cabrita, em coprodução com o festival Curtas de Vila do Conde. A exposição será apresentada em Lisboa, a partir de Fevereiro 2024.
RECEÇÃO CRÍTICA AO FILME
Apesar da crítica ter acolhido com alguma frieza o filme, Amália Rodrigues considerou sempre ser esta a sua melhor interpretação no cinema. Nesse ano receberia o prémio de melhor atriz, atribuído pelo Secretariado Nacional de Informação às suas interpretações em FADO CORRIDO (Augusto Fraga, 1964) e AS ILHAS ENCANTADAS. “Andava toda divertida, a pensar que ia sair dali uma grande fita. Estava cheia de fé no filme, e não me arrependo de o ter feito. Quanto a mim, é a minha melhor interpretação no cinema. Em Portugal, o filme sofreu por minha causa. Por uma espécie de má vontade contra mim. Como era um filme artístico, criticaram logo.”
O modernismo impresso por Villardebó haveria de contrastar com as ruturas que, então, definiam o novo cinema português, muito dele produzido por Cunha Telles. Luís de Pina, num texto da época, recuperado, depois, para uma folha da Cinemateca, escreveria: “o filme aponta firmemente o caminho que todos sonhamos: o encontro da ficção portuguesa com a aventura portuguesa, cuja ausência nos revela, afinal, o insuportável convencionalismo da nossa maneira de ser, essa atitude do espírito que nos tem levado quase sempre a criar a convenção da realidade, em nome dos mais diversos princípios, antes de criar a convenção da arte."
Na altura da estreia, em França, lia-se na revista Cahiers du Cinèma que o filme “revelava um cineasta onde o artesão rivalizava com o poeta”. O crítico Paul-Louis Martin sublinhava que “o sonho de Villardebó é triplo: é um sonho sobre Melville, depois sobre o mar, e por fim, sobre a ambiguidade da ilha. O seu filme fica resoluta e corajosamente de fora, surgindo de uma poesia diurna muito para lá daquele silêncio, um silêncio único que se constitui enquanto ponto de destaque na direção de um horizonte onde os diferentes elementos se fundem no cinzento absoluto da interrogação”. CINEMATECA PORTUGUESA
As Ilhas Encantadas pode ser o sonho de um marinheiro. Contudo, o filme é banhado por uma fotografia maravilhosa, como um sonho perdido que evoca a substância da memória aristocrática dos elementos primordiais. Cahiers du Cinéma
JANTAR DO 68º ANIVERSÁRIO CCF após a sessão, às 20h.
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