Minari
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Categoria hospedeira: Programação
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in Ciclo do mês
5ªF | IPDJ | 20h21m
DIA 8
MINARI, Lee Isaac Chung, EUA, 2020, 115’, M/12
sinopse, ficha técnica e trailer:aqui
críticas
[...]Tal como se disse, “Minari” não dispensa a ficção mas uma entrevista em vídeo com Lee Isaac Chung permitiu-nos entender a que nível está este filme próximo do seu realizador — ao ponto de este replicar a partida do xixi que David prega à avó. A estrutura familiar de Isaac Chung foi passada a papel químico para o filme, também ele e a irmã mais velha receberam em miúdos a visita da avó que, em muitos aspetos, “portava-se como uma de nós, como uma criança”. Os pais dele estabeleceram-se numa quinta quando o realizador tinha cinco anos, chegaram com o pico da vaga de imigração coreana no país, passaram pelo Colorado (onde Isaac Chung nasceu), pela Georgia, até ao mesmo Arkansas rural e provinciano em que o filme decorre.
“A minha avó era muito nova, tinha pouco mais de 50 anos e mantinha o vigor de uma mulher nova, estava habituada a desembaraçar-se sozinha, perdera o marido na guerra [da Coreia]. Não tinha nada que ver com a imagem-modelo da carinhosa avó americana que nós estávamos habituados a ver nas séries de televisão. Estava sempre a inventar jogos e detestava perder.” Para interpretar a personagem, o realizador recorreu a uma atriz mais velha do que a avó que ele teve naquela idade, “mas com igual abertura de espírito”. “Youn Yuh-jung tem essa reputação de indomável na Coreia, não é pessoa de calar e de obedecer sem dizer o que pensa e todos os cineastas que trabalham com ela conhecem o seu temperamento. Além disso, é uma atriz estupenda.”
Ao pensar em si e na história da sua vida enquanto escrevia o argumento — e isto passou por pormenores como os da cena de wrestling que Soon-ja vê com o neto na TV — Isaac Chung pensava numa cadeia de transmissão também ela com elos pessoais: “A resposta da audiência tem sido ótima aqui nos Estados Unidos, surpreendeu-me, mas a minha primeira ideia foi tão-só a de fazer um filme que agradasse tanto aos meus amigos do Arkansas como à minha filha de sete anos, ligando-a a um passado que ela não conheceu. 'Minari' tem muito disso, uma vontade de fusão com a terra, a procura de raízes no solo que pisamos e que nos alimenta. Neste sentido, acho que fiz qualquer coisa que sinto estar próxima de um western.”
Talvez por querer ser o mais autêntico possível, quis Isaac Chung ‘escapar’ do drama ou, pelo menos, soube mantê-lo a uma distância de segurança. Quem olhar bem para “Minari” reparará que os seus conflitos são sempre mais sugeridos do que materializados, percebe-se que a violência está lá, mas não entra — é um filme tímido também nesse ponto. Como se possuísse um filtro contra a crueldade que o mantém seguro. Contudo, há um encanto inegável nestas vinhetas, um desejo de harmonia com os movimentos do mundo que é menos americano do que asiático e vem de outras influências. Falámos a Isaac Chung do cinema de Hou Hsiao-Hsien e de Edward Yang, dois pilares do cinema do Taiwan que nos pareceram balizar “Minari”. Ele concordou com a proposta e acrescentou à lista de influências outro asiático: o iraniano Kiarostami.
FRANCISCO FERREIRA, Expresso
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