Uma Guerra Pessoal / A Private War

19 MAR | 21H30 | IPDJ

 Uma Guerra Pessoal, Matthew Heineman, Reino Unido/EUA, 2018, 110', M/14

Durante a sua longa carreira jornalística, a norte-americana Marie Colvin visitou cenários de guerra um pouco por todo o mundo. Foi num destes lugares, mais precisamente no Sri Lanka, que, em 2001 perdeu a visão do olho esquerdo na sequência de ferimentos provocados por estilhaços de uma granada quando fazia a cobertura da guerra civil. Nessa altura, começou a usar uma pala negra que utilizava com orgulho e que se tornou a sua imagem de marca. Em Fevereiro de 2012, a serviço do jornal britânico "The Sunday Times", com quem colaborou durante anos, Colvin morreu na sequência de um bombardeamento do exército sírio contra um edifício usado pela imprensa na cidade de Homs. A seu lado estava o fotojornalista francês Rémi Ochlik, de 28 anos, que também foi morto. Nesse mesmo ano, mais de duas dezenas de repórteres faleceram na Síria a tentar mostrar ao mundo a crueldade e as injustiças do conflito. Marie Colvin acreditava que tinha de cobrir as guerras para que ninguém dissesse "eu não sabia". Com Rosamund Pike, Tom Hollander, Jamie Dornan, Jérémie Laheurte e Stanley Tucci nos papéis principais, um drama biográfico que tem por base o artigo "Marie Colvin's Private War", publicado, em 2012, pela jornalista Marie Brenner na revista "Vanity Fair". A realização fica a cargo de Matthew Heineman ("Cartel Land", "City of Ghosts") e o argumento é de Arash Amel ("Grace de Mónaco").PÚBLICO 

Crítica

A história verídica

Com uma Rosamund Pike em grande forma, o documentarista Matthew Heineman estreia-se na ficção com uma biografia ambiciosa da repórter Marie Colvin.

Há qualquer coisa de francamente refrescante quando a primeira coisa que aparece no écrã num filme baseado numa história verídica não é “baseado numa história verídica”. O documentarista Matthew Heineman confia nos seus espectadores para não precisar de lhes explicar logo à cabeça que a sua estreia no cinema narrativo é a história verídica da jornalista Marie Colvin, aclamada repórter de guerra do Sunday Times que morreu em 2012 em Homs, na Síria. Até porque Uma Guerra Pessoal, baseado no artigo que Marie Brenner escreveu para a revista Vanity Fair, não é nem um documentário sobre os conflitos regionais das últimas décadas nem um convencional filme biográfico: é um retrato de uma mulher cujo confronto quotidiano com o mundo lá fora a confronta também consigo mesma e com opções de vida que talvez ela própria não saiba explicar.

Não é improvável que Heineman tenha reconhecido algo de si próprio nos riscos corridos por Colvin – afinal, ele arriscou-se junto do narcotráfico da América Latina em Cartel Land (2015) e junto dos resistentes sírios em City of Ghosts (2017). Nem que o que lhe tenha interessado em filmar a repórter tenha sido tentar compreender essa atracção do abismo, algures entre o dever moral de memória, o idealismo radical e a adicção ao perigo. Heineman não recorre a psicologias baratas, prefere ir deixando pistas ao longo do filme que apontam possibilidades – a ideia é manter Colvin um ser humano, misto de fragilidade e força, coragem e temor. Tem a ajuda de Rosamund Pike, actriz excelente e habitualmente subaproveitada (mesmo depois da sua nomeação para os Óscares por Em Parte Incerta), que literalmente habita a repórter americana numa performance que nos fez pensar em Cate Blanchett ou Meryl Streep, e que ajuda e muito o cineasta a assinar um filme consistentemente interessante e inteligente. [...]

Jorge Mourinha, Público

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