Esplendor na Relva / Splendor in the Grass

17 NOV | IPDJ | 15H00
ESPLENDOR NA RELVA, Elia Kazan, EUA, 1961, 1124', M/12

ficha técnica: aqui

críticas

Não fiz sondagens mas posso apresentar uma mão-cheia de honrados cidadãos que, tendo visto Esplendor na Relva pelo menos uma meia-dúzia de vezes, conhecendo-lhe os cantos e os truques todos, mal a Natalie Wood começa a recitar o poema de onde vem o título do filme são percorridos por uma espécie de descarga eléctrica que tem o condão divino de pôr a funcionar as glânduIas lacrimais de pronto. A partir daí e até ao fim do filme (até ouvirmos outra vez o poema), as lágrimas quase não abrandam e quanto a secarem por completo nem pensar nisso. 
É por fazer chorar honrados cidadãos advertidos que Esplendor na Relva é um filme que só os tontos não amam? É claro que não. Mas esse facto, essa capacidade de nos emocionar intensamente, essa nostalgia pelo tempo das esperanças e dos ideais que o próprio tempo — e a marcha da realidade — liquidou, é um sentimento tão forte, tão sublime e tão enraizado na matéria dramática deste filme que falar de lágrimas diante de Esplendor na Relva é, se calhar, sinónimo de afirmar que ele toca no fundo dos fundos de nós.
E isso só filmes muito raros fazem.
Tal como só filmes ainda mais raros conseguem falar de desejo inconsumado com a vertigem demencial que Esplendor na Relva pratica. O plano de Natalie Wood no banho não é só uma cena de cinema invulgar, é uma visão, um espasmo, a dor mais interior do mundo, como um vulcão que abafassem. E é possível falar da pungência triste do remorso por termos consentido na banalização da realidade, nesse reencontro final entre Beatty e Natalie Wood, depois de uma “normalização” pelo silêncio, pelo recalcamento, pela adequação de que, um dia, fora belo, ao que a realidade quer feio e conformado.
Toda a beleza, toda a tristeza: Esplendor na Relva [...] um dos mais emocinantes filmes de que há memória.
Jorge Leitão Ramos, Expresso, 15/09/1989