O Workshop / L' Atelier
14 MAI | IPDJ | 21h30 - O WORKSHOP, Laurent Cantet, França, 2017, 113’, M/12
sinopse, festivais, trailer: aqui
Notas da crítica internacional:
O retrato radical e subtil de uma geração perdida. Apaixonante! Claudine Levanneur, aVoir-aLire.com ★★★★★
Íntimo, intimista e oportuno. Jeniffer Szalai, New York Times
Um filme perturbador e luminoso. Amélie Cordonnier, Femme Actuelle ★★★★★
Um olhar inteligente e sensível... Voici ★★★★★
Cantet filme de forma justa e certeira. Emocionante e assustador. Eric Libiot, L’Express ★★★★★
Cantet continua a criar um cinema (...) alegremente político. Anne Diatkine, Libération ★★★★★
Um luminoso retrato de grupo (...) perante uma vida sem perspectivas. Eric Derobert, Positif ★★★★★
Escura-se uma juventude sem a julgar, ao modo de Cantet. Guillemette Odicino, Télérama ★★★★★
Um filme inteligente, voraz e meticuloso. Luis martínez, El Mundo ★★★★★
Críticas
Atelier de escrita, lição de cinema
Esteve no Festival de Cannes de 2017, chama-se "L' Atelier" no original e surge agora no mercado com o título "O Workshop" — encenando as relações entre quem ensina e quem estuda, Laurent Cantet volta a dar uma magistral lição de cinema.
Ninguém ignora que os problemas do mercado cinematográfico não podem ser compreendidos, muito menos descritos, através de uma mecânica atribuição de "culpas"... Da difusão dos filmes aos seus ecos no espaço mediático, estamos perante um labirinto complexo que importa olhar para além de qualquer maniqueísmo. O que, entenda-se, não nos deve impedir de chamar a atenção para alguns casos singulares.
"O Workshop", por exemplo, filme de Laurent Cantet exibido na secção "Un Certain Regard", do Festival de Cannes de 2017. Como e porquê estrear um tão fascinante objecto de cinema mais de um ano decorrido sobre a conjuntura que lhe conferiu especial actualidade? Como e porquê adoptar o título anglo-saxónico, quando o filme se chama no original "L'Atelier", palavra não apenas conhecida dos espectadores potenciais, mas também francamente mais adequada para dar conta daquilo que nele acontece?
Em que é que tais percalços afectam as qualidades do objecto em si?... Em nada. Este é, de facto, o retrato íntimo de um atelier de escrita criativa, no Verão, em cenários paradisíacos de La Ciotat, na região de Marselha. A pouco e pouco, Olivia Dejazet (Marina Foïs), escritora muito conhecida e responsável pelo atelier, vai deparar com as resistências de Antoine (Mathieu Lucci), jovem aluno que, através de uma perturbante agressividade, manifesta simpatia pela visão política de uma certa extrema-direita francesa...
Ecos de "A Turma" (2008), o filme de 2008 que valeu a Cantet a Palma de Ouro de Cannes? Sim, sem dúvida, uma vez que reencontramos aqui a preocupação de analisar as relações de aprendizagem como uma variante do frente a frente mais geral das gerações. Contornando qualquer maniqueísmo, seja ele político ou moral, "L' Atelier" é, em última instância, um filme sobre a espessura da linguagem — escrita ou falada — e a sua inscrição nos laços humanos.
Marina Foïs e Mathieu Lucci são notáveis na composição desse misto de atracção e resistência que define a sua relação, devidamente pontuado pelas outras personagens que participam no atelier. Aliás, a mise en scène de Cantet é suficientemente subtil para nos fazer ver/sentir que tudo isso marca as palavras e os espaços, os diálogos e os silêncios, numa celebração invulgar do cinema como arte da observação e, sobretudo, da escuta.
João Lopes, rtp.pt/cinemax
O novo Cantet começa por constituir-se como uma versão de "A Turma" (2008).
Nele, aterramos na cidade francesa de La Ciotat, para seguir as sessões de um workshop de literatura que, sob a orientação de uma escritora parisiense de meia idade, reúne um grupo de adolescentes Iocais (a maioria deles interpretada por não-atores), cujas ideias deverão gerar um romance policial. Neste quadro, a primeira coisa notável é o modo como Cantet volta a fechar-se com os atores numa sala de aula para (em grandes planos de câmara à mão) sondar as tensões que vão nascendo naquele microcosmos. Mas cedo se percebe que o filme está sobretudo interessado numa das figuras do grupo: a de um rapaz que aproveita o workshop para exteriorizar uma agressividade cujas raízes a narrativa tentará investigar. Desde logo, articulando o seu corpo com a sua geografia: a de uma cidade portuária outrora florescente que; agora, vive ancorada às memórias do seu passado (destiladas por imagens de arquivo). Trata-se de um território decadente, que é exposto como um exemplo de uma França provincial destituída de horizonte e permeável à demagogia (o rapaz passa as noites a ouvir no computador os discursos de um líder da extrema-direita). Apoiando-se nestes elementos, Cantet tece o retrato de um corpo à deriva, cujos assomos de violência traduzem apenas um desejo de futuro e pertença. [...]
É[...] o melhor Cantet da última década.
Vasco Baptista Marques, Expresso