Higiene Social
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Categoria hospedeira: Programação
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in Ciclo do mês
5ªF | IPDJ | 20h21m
DIA 15
HIGIENE SOCIAL, Denis Côté, Canadá, 2021, 75', M/12
sinopse, ficha técnica e trailer:aqui
críticas
O novo Côté começa com um plano fixo de 13 minutos que sintetiza bem o seu programa de trabalho. Nele, aterramos num prado verdejante, onde enquadrados em plano geral se recortam dois corpos – o de um homem na casa dos 40 (Antonin) e o da sia irmã. Separadas por vários metros de distância, as personagens entregar-se-ão, então, a um duelo verbal sui generis. A sua singularidade deriva, antyes de mais, da natureza teatral dos diálogos: uma série de eloquentes elucubrações sonre a vida de Antonin que poderiam ter saído de uma comédia de enganos de Marivaux e que os atores (quase sempre imóveis) vão declamando num tom que oscila entre o patético e o solene. A sequência cumpre uma dupla função, a de nos apresentar a Antonin (un dandy sem eira nem beira que está dividido entre a mulher e a amante) e a de dar o mote para o que virá a seguir. A saber: uma sucessão de longos planos fixos filmados no campo (com Côté a ‘embaciar’ por vezes as margens do quadro para obter um efeito pictórico e reforçar o artifício), ao longo dos quais Antonin vai sendo posto em xeque por várias mulheres – da sua esposa a uma funcionária das finanças. A articulação desses quadros vai tornando cada vez mais óbvio que o excêntrico universo visual e verbal do filme – permeável a inúmeros anacronismos (vestidos de diferentes épocas...) – constitui uma tradução do ‘teatro mental’ de Antonin. De facto, o que vemos (o imóvel) e o modo como vemos (à distância) exprimem o recuo irónico do protagonista em relação a si e aos outros.
Ou melhor; o seu emparedamento numa pose blasé, através da qual tenta dissimular sem sucesso a sua capacidade de agir e interagir: ele fala recvorrentemente sobre o filme que tenciona um dia vira fazer e não toca uma única vez em nenhum dos corpos que o rodeiam. Não se estranhe pois quem no fime (sublime, de tão patético), o encontremos como sempre o encontrámos: sozinho com as suas palavras, a ensaiar gestos que nunca chegará a faze. Chapeau.
VASCO BATISTA MARQUES, Expresso
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