No Táxi do Jack
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Categoria hospedeira: Programação
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in Ciclo do mês
5ªF | 23 JUN | IPDJ | 21H30
NO TÁXI DO JACK
Susana Nobre, Portugal, 2021, 70’, M/12
sinopse, ficha técnica e trailer: aqui
Nota de intenções
De 2007 a 2011 trabalhei como Profissional de Reconhecimento e Validação de Competências num processo de educação de adultos que estava a ser posto em prática no Programa Novas Oportunidades. Este programa tinha tido um forte impacto social devido ao baixo grau de escolaridade da população portuguesa – “um milhão de inscritos” era o bastião do partido socialista que governava na altura. Fui então trabalhar para um centro Novas Oportunidades com o objectivo de fazer um filme.
O gabinete em que trabalhava ficava em Vila Franca de Xira, uma cidade situada a 30 km de Lisboa, que tinha sido fortemente industrializada e encontrava-se agora na meta final de um processo de desindustrialização que tinha começado nos anos 80. A partir da minha secretária fui assistindo ao desfilar de dezenas de trabalhadores que ficaram sem os seus trabalhos neste período. Foi nesta altura que conheci Joaquim.
Durante as entrevistas e sessões que fazia, ouvia homens e mulheres a falar sobre a sua trajectória de vida, as condições que determinaram a sua existência e a sua dificuldade em existir. Tal como eles, eu também estava dentro de um processo: se por um lado essa escuta, era por vezes desgastante, por outro lado, era fortemente absorvente.
Durante cinco anos, filmei o meu posto de trabalho o que resultou em Vida Activa, um filme de 2013. Depois deste filme fiquei com muita vontade de fazer outros filmes, de dar corpo às histórias e às impressões que fui anotando ao longo deste período. Deste vasto arquivo nasceu Provas, Exorcismos, um filme de 2015, que narra a história de um processo de insolvência de uma fábrica.
Numa vacilação entre diversos estilos, NO TÁXI DO JACK foi a forma que encontrei para dar continuidade a este percurso, a esta viagem, sobre a história da laboração de um povo, as suas crenças e desilusões. Joaquim Calçada, o seu nome português, guia-nos inicialmente pela sua memória.
É pela sua voz que começa a viagem, a bordo do seu táxi fantasmagórico. Esta viagem não é só geográfica. Vai estabelecer-se entre fragmentos da história recente de Portugal. Joaquim, perto de se reformar, é confrontado com uma crise económica que obriga a empresa em que trabalha a uma reestruturação e, sucessivamente, ao seu despedimento.
Este acontecimento despoleta uma intersecção de forças que convergem de diferentes distâncias e de diferentes tempos.
Joaquim navega no seu próprio atlas como um lugar de memória, que é também uma versão de um lugar e de uma história, a da América e a dos seus emigrantes, a de um Portugal empobrecido pelos anos de ditadura e pelas sucessivas crises. NO TÁXI DO JACK é um road-movie fechado: em vez de nos levar num traçado rectílineo de uma estrada nas suas diferentes paragens, faz-se num movimento concêntrico sobre a história de vida de Jack.
leituras
No Táxi do Jack. mag.sapo
Berlinale: No Taxi do Jack transporta para Berlim a burocracia do desemprego em Portugal. Paulo Portugal, insider